Eu desço para tomar uma cerveja, porque já não aguento a reclusão na
qual me coloquei, para tentar terminar a merda desse trabalho.
Entro no bar, sou uma pessoa totalmente atípica naquele lugar, estava
cheio, claro em pleno sábado a noite era óbvio que estaria cheio, cheio de
pessoas vestidas de preto, com suas risadas e comentários, tudo em um tom como
se estivesse no volume máximo, eles devem ter algum problema de audição,
imagino que eles escutem rock'n'roll, então quanto mais alto a música, mais
surdos eles ficam.
Parei no balcão e olhei ao meu redor, algumas pessoas notaram a minha
presença, mas algumas nem me viram, pedi uma cerveja. Pedi uma antártica, como
se já não fosse de se esperar, eu pedi uma antártica gelada. Redundante e
patético. Eu sou a pessoa mais colorida no bar, apesar de estar com a minha
camisa xadrez azul, meus óculos de grau e tênis. Eles poderiam até me considerar
o que eles chamam de hipster, mas não estou velho para isso. 
Sim, tenho 42 anos, alguns fios de cabelos brancos cresceram nas
laterais de minha cabeça, me dando um aspecto mais velho ainda. Desci para o
bar, porque não estava mais aguentando a minha própria companhia, sozinho estou
tentando terminar meu romance, estou nos últimos capítulos, mas travei. 
Travei de tal forma que só consigo pensar em corujas, sim elas povoam
meus pensamentos, com suas asas gigantes que parecem me abraçar. Alguém esbarra
em mim no bar, minha cerveja chega pego meu copo e a garrafa. Decidi ser
ousado, deixei o copo e só levei a garrafa.
Sentei na calçada, prestando atenção nas pessoas que por ali passavam,
quando sem mais um garoto sentou-se ao meu lado, passando muito mal, vomitou,
gritou com os amigos, xingou e decidiu se encostar-se à parede e dormir. Ali eu
fiquei do lado daquele garoto, ele dormindo e eu bebendo, ouvindo as conversas
altas do bar, tentando achar alguma inspiração, alguma coisa que eu pudesse
usar para terminar o meu trabalho, mas nada.
Nada ali me interessava, nada ali me fazia parar de pensar na coruja,
aquela que me seguia o tempo todo, ela que me tirava o foco, foi por causa dela
que travei. Ouvi barulho de vidros se quebrando, algumas pessoas gritam e uma
pessoa sai ferida do bar, espirrou um pouco de sangue em mim, mas naquela
altura, a única coisa que queria era tomar mais uma cerveja.
Quando entrei no bar novamente tinha um alvoroço, um cheiro muito forte
de erva, álcool e outras coisas que não conseguia identificar, parei no balcão
de novo, foi quando uma mulher colocou a mão no meu ombro e falou "a
coruja é ela, ela faz parte da sua vida, do seu romance, ela que voa atrás de
você, está presa e precisa ser libertada", e foi embora. Depois do que ela
falou, finalmente tive uma ideia, peguei minha cerveja gelada, mas quando me
virei para retornar à calçada, tropecei e cai em cima dos cacos de vidro que
estavam no chão, um deles foi implacável e acertou minha jugular.
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